top of page
  • Isabela Rodrigues

Pequenas reflexões de uma aluna de História

Acordo às 6h de uma segunda-feira. Meu corpo está igual: as mãos, o cabelo, o rosto e os braços. Talvez esteja um pouco mais cansada por conta do final de semana agitado. Saí com meu amigo e fomos ao show do Titãs em Campo Grande. Foi divertido dançar ao ar livre. Embora tudo esteja aparentemente em seu lugar, eu sinto que algo está diferente. Meu coração bate no mesmo ritmo, mas minha mente está inquieta. Desde que iniciei a faculdade de História, pensamentos intrusos não param de chegar. É como se um alfinete pequeno me cutucasse o tempo todo. Não consigo mais andar pelas ruas da cidade sem refletir sobre as coisas.


Por que aquela criança pede dinheiro no semáforo? Por que existem filas e mais filas ao lado de fora do posto de saúde? Por que aquele senhor pedia emprego na porta de um comércio? Me obrigo a levantar. Tomo um banho quente rápido e malemá engulo o café da manhã. Corro para o ponto de ônibus para não me atrasar, porque preciso ir para o estágio no programa cidadania viva. Cidadania Viva. Na faculdade eu aprendi que a cidadania era algo para poucos. Indígenas, negros, pobres, favelados, LGBTs, PcDs e mulheres ficaram de fora desse pacote. Nossa sociedade nunca ligou para os marginais. Um tal de Milton Santos disse que o Brasil nunca teve cidadãos porque os pobres nunca tiveram direitos. Concordo com ele e adiciona algo: o Brasil moderno de 2022 ainda está assim. Colônia, República, Ditadura, Redemocratização.


Em todos esses períodos foi o pobre quem passou fome, morreu torturado, pegou doenças, não teve acesso à saúde e muito menos acesso à educação. Cidadania Viva. Subo no ônibus e vejo rostos famintos e cansados. Essas pessoas, por mais exaustas que estejam, continuam batalhando. Cidadania pode até ser o local onde trabalho, mas também é o direito inato dessas pessoas de terem o mínimo para sobreviverem. Cidadania é poder comer arroz, feijão, carne e salada todo dia. Cidadania é poder ir ao hospital e ser bem atendido. Cidadania é ir com os filhos a uma peça de teatro gratuita. Cidadania não é só votar e ser esquecido no resto do ano. Isso eu aprendi com a profa. Dilza, prof. Samuel, prof. Renato e tantos outros mestres. Já no estágio, aprendi que a cidadania pode ser historicamente restrita a poucos, mas é nosso dever ampliar isso. A luta só acaba quando morremos. Com a cabeça fervendo, desço do ônibus e vou a pé até o trabalho. É hora de manter a cidadania viva. Agora, mais do que nunca, é hora de continuar.



13 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments

Couldn’t Load Comments
It looks like there was a technical problem. Try reconnecting or refreshing the page.
bottom of page