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  • Mariana Lopes

Mulheres na política e o destino feminino na diplomacia


Este ano foi criada a Associação de Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB), um grupo de mulheres diplomatas - ativas e aposentadas - que se juntaram por um Itamaraty mais igualitário e representativo. Mas esse coletivo existe há 10 anos, com o objetivo de unificar a parcela feminina no cenário diplomático brasileiro, formulando e apresentando medidas que promovam a entrada e ascensão de mulheres nessa carreira política. A AMDB realiza todos seus projetos de promoção à igualdade baseado no conceito da interseccionalidade - ou seja - são sempre dois ou mais fatores sociais que definem uma pessoa, como etnia, raça e etc.



Essa associação só foi criada a partir da percepção do quanto o campo das políticas estrangeiras pode ser hostil às mulheres. Dessa forma, fez-se necessário uma plataforma que acolhesse o grupo feminino onde todas se apoiassem e construíssem um Itamaraty baseado na sororidade e no empoderamento feminino. O mês de janeiro de 2023 foi extremamente simbólico para o trajeto dessas diplomatas - quando a Embaixadora Maria Laura da Rocha foi empossada como Vice-Ministra do Itamaraty - o evento ficou conhecido como “Onda Lilás”, no qual milhares de profissionais do Ministério das Relações Exteriores expressaram comemoração a representatividade feminina em um cargo importante dentro da instituição.


Entretanto, o Brasil parece estar caminhando no contrafluxo da América Latina e do resto do mundo. Enquanto as proporções entre diplomatas homens e mulheres se acirram no globo, o Brasil permanece em uma disparidade notável - enquanto 87,5% das embaixadas são chefiadas por homens, apenas 12,5% são chefiadas por mulheres. Outra diferença é que o Brasil carece de políticas de incentivo e inserção de mulheres neste meio político, em outros países, já existe um programa de cotas que garante a proporção mínima de mulheres nesses espaços.

Essa participação feminina mínima na diplomacia brasileira dá-se, não só por carregar este peso de “uma profissão de homens”, mas porque essas mulheres encaram a dificuldade de conciliação do trabalho doméstico com a carreira, considerada instável para a formação familiar. A dupla jornada de trabalho dificulta a entrada e a ascensão de mulheres neste cargo, já que a promoção impacta mais a vida das diplomatas do que dos homens. Existem políticas de auxílio às mulheres diplomatas em seus espaços de trabalho - as embaixadas contam com um espaço de diversão às crianças dos profissionais dessas embaixadas - mas, de qualquer forma, é inegável o quanto estas propostas e resoluções precisam caminhar para que, de fato, seja efetivada maior igualdade.


A perspectiva do ritmo atual é que a igualdade no recrutamento só será alcançada em 2110 - por isso, é importante que o Brasil tome novas políticas para maior presença feminina nesses espaços. Não só porque é um direito das mulheres terem presença garantida, mas também para que essa carreira torne-se um caminho possível para outras que anseiam a vocação. A inspiração em programas estrangeiros é mais do que bem-vinda, afinal, nada mais é do que uma prova-real de que é possível alcançar a igualdade de gênero.


As Nações Unidas contam com 41% de participação feminina no geral, contra 59% de participação masculina, talvez seja uma das menores porcentagens atualmente - mas ainda é perceptível a hegemonia masculina nesses espaços. A ONU vem se comprometendo com a igualdade de gênero desde 2015, com a divulgação da Agenda 2030, onde 17 objetivos de desenvolvimento sustentável compõem um plano de ação mundial para prosperidade. A igualdade de gênero está contida no objetivo de desenvolvimento 5 - que prevê a igualdade salarial, a educação e os direitos das mulheres nos mais diversos espaços.


Talvez de todos os projetos ideais e “utópicos” para uma sociedade melhor e mais orgânica, o plano de igualdade de gênero seja o mais próximo da execução em nosso contexto atual. Não custa muito dedicar governos, projetos e políticas de incentivo à população feminina e sua maior expressão nos mais diversos cenários profissionais.



Bibliografia


Apresentação Política de Gênero no MRE: Desafios e Propostas de Solução (AMDB, 2022)


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