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  • Louise Azambuja

Consumismo, produção de lixo e seus impactos ambientais em Campo Grande

Reduzir, reciclar e reutilizar – os 3Rs, já ouviu falar? Esse ideal da educação ambiental é uma das resoluções mais propagadas para o problema de acúmulo de lixo no Brasil e no mundo. E uma das ferramentas para isso, que se tornou comum a partir de 1993 com os catadores informais e a criação de aterros sanitários, é a coleta seletiva, uma medida que otimiza o processo de recolhimento e descarte de resíduos.


Dessa forma, com a coleta seletiva, eles são categorizados e separados naquelas conhecidas latas de lixo coloridas, em que cada cor sinaliza o material a ser depositado ali dentro: amarelo – metal, azul – papel, verde – vidro, entre outros.


Com a separação devida, o lixo não é descartado incorretamente, formando focos de poluição e proliferação de doenças, podendo, então, ser reaproveitado e destinado para cooperativas de reciclagem. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.205 de 2020, prevê que essa logística ambiental seja respeitada, cabendo ao setor público e privado realizar a gestão de resíduos para que eles não se acumulem em lixões e lugares indevidos.



A coleta seletiva acontece desde 2011 em Campo Grande, sendo a responsável por ela a  concessionária Solurb, que realiza o serviço em dias e horários diferenciados pelos bairros. E em  regiões da cidade que não são atendidas porta a porta, a empresa possui Locais de Entrega  Voluntária para coleta dos materiais. Clique aqui para checar o mapa de localidades abrangidas e os respectivos horários. 


Logo, com essas atuações, os impactos socioambientais são mitigados ao longo dos anos e o planeta agradece. Contudo, é uma pena que não é tão simples assim.


Uma das características centrais da sociedade capitalista de hoje é o consumo desenfreado. A Sociedade do Consumo, ideia proposta pelo sociólogo Baudrillard em seu livro homônimo, é o que prevalece no contexto social contemporâneo. As marcas estabelecem uma conexão direta com os consumidores, e também utilizam de aparatos como a obsolescência programada*, para gerar uma manipulação sistemática e cultural como estratégia de venda, fazendo com que as pessoas se tornem ponto chave na cadeia produtiva.


Sendo assim, comprar é uma obrigação fundamental e moral, que detém significados subjetivos, como a satisfação pessoal e ocupação de certos nichos dentro da hierarquia social. Essa dinâmica alimenta a produção, a compra e, consequentemente, o descarte de produtos de modo descontrolado e absurdo.


Segundo dados da Solurb, 785 toneladas de lixo são geradas por dia em Campo Grande e levadas para o aterro sanitário Dom Antônio Barbosa II. Em relação à produção de lixo individual, 324 kg de resíduos são gerados anualmente por cada campo-grandense, e somente 2,5% são reciclados. Esses índices demonstram que há um grande despojo de lixo na cidade e, infelizmente, não há adesão pelo modelo de coleta seletiva na capital.


A Organização das Nações Unidas já emitiu alertas sobre a produção de resíduos na América Latina, que atinge a marca de 145 mil toneladas diárias. A partir da Agenda 2030, os países, as cidades, incluindo Campo Grande, e os indivíduos se comprometem com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12, Consumo e Produção responsáveis, que assegura a manutenção dos 3 Rs e o uso eficiente dos impactos naturais, visando à diminuição de efeitos ambientais negativos.


Esses impactos nocivos ao meio ambiente sempre são vistos como uma limitação da espécie humana na Terra e dos recursos naturais, que hoje formam juntos a força e a fonte dessa mesma cadeia produtiva. Ou seja, a preocupação para com esses efeitos provém de um viés antropoceno e técnico-científico-industrial: preservar para os recursos naturais não acabarem, permitindo a continuação da vida dos trabalhadores, e continuarem sendo energia para a indústria.


A consciência ecológica deve ser alcançada de maneira coletiva, em escala planetária, levando em conta as relações sociais entre os indivíduos e deles com a natureza ao redor. Para Ailton Krenak, filósofo e ambientalista indígena, a sociedade mercantilizada se opõe à ideia da natureza como um ser sagrado e merecedor de respeito. Logo, essa lógica, que pode a prior se parecer politizada, visa apenas à plenitude humana e a permanência do modo de produção capitalista desgovernado.


Então, é preciso que nós, enquanto cidadãos, busquemos aprender sobre os contextos da ecologia e da ecofilosofia, para além de uma reflexão e tomada de consciência individual que já é continuamente expandida. Buscar reconhecer que a natureza existe sozinha enquanto um ser, e não só como recurso essencial para uso e proveito humano, é alcançar a compreensão de que devemos respeitá-la em todos os processos de nossas vidas, começando a partir do descarte de lixo e consumismo descontrolado.



*Obsolescência Programada, também chamada de obsolescência planejada, é quando um produto lançado no mercado se torna inutilizável ou obsoleto em um período de tempo relativamente curto de forma proposital, ou seja, quando empresas lançam mercadorias para que sejam rapidamente descartadas e estimulam o consumidor a comprar novamente."


Veja mais sobre "Obsolescência Programada" em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/obsolescencia-programada.htm

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